terça-feira, 30 de outubro de 2007

Olha lá vai passando a procissão... ¹

Eram muitas pessoas caminhando, seguindo alguma coisa que não podia ser vista lá do fundo da fila.
Viam-se amigas se apoiando umas nas outras, casais de mãos dadas, senhoras idosas com lenços nas mãos, gente de todos os tipos. A única coisa que todas essas pessoas tinham em comum era uma imensa tristeza refletida nos olhos.
Umas mais do que as outras, algumas com o desespero nítido daqueles que já conseguiram realizar o que aconteceu, outras com um olhar perdido, como se perguntassem umas as outras se aquilo era verdade mesmo.
Eu esticava meu pescoço, me esforçava, mas não conseguia ver o que se passava a minha frente.
Duas senhoras ao meu lado começaram a conversar: "sonhei com papai, ele estava feliz", a outra respondeu apenas "hum".
Do outro lado pude ouvir uma voz mais alta, destoante do resto dos que caminhavam, me deu uma sensação ruim, aquela pessoa não devia estar alí, será que ela não percebia a tristeza no olhar de todos? Era apenas uma curiosa que dava plantão em eventos trágicos. Fiquei com raiva. Caminhamos por algum tempo, pude perceber que estavamos chegando ao destino. Fizemos uma curva e notei melhor o que se passava:
Havia um carro preto, coberto de flores abrindo caminho pelas ruas da cidade e atrás desse carro vinha todo o cortejo. A frente do cortejo a cena era desoladora, indescritível. Três pessoas lideravam a caminhada, e olhando para elas só consegui pensar em uma coisa, ficar em silêncio.
O céu estava azul, o dia era quente e bonito. Quando finalmente chegamos ao nosso destino, vi flores e pássaros, uma paisagem que ia contra o que se passava com a multidão mas que dava, nessa contradição, um ar mais calmo àquela tragédia.

E de repente tudo estava acabado, caixão selado, flores postas.

Tudo acabou em aplausos.

1- Procissão - Gilberto Gil

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ordinary, nothing out of the ordinary.

Ela acordou querendo ser outra pessoa.
Abriu os olhos, olhou seu quarto e nada havia mudado.
Em seus sonhos podia ser qualquer pessoa, mas a realidade fazia menos sentido que os sonhos, então permanecia sendo quem sempre fora.

Seus defeitos já a haviam cansado, e suas qualidades nada haviam de especiais.

Queria ser aquele tipo de mulher que todos querem ser amigos, aquele tipo de pessoa que possui, no mínimo, uma qualidade grandiosa que a faz ser admirada.
Ás vezes queria ser a pessoa que mais a havia feito mal, aquela responsável por noites em claro e horas de discussões, ela sim parecia interessante, diferente.

Ela era comum, só mais uma na multidão.

Escovou os dentes, vestiu uma roupa qualquer e foi viver sua vida.
Não havia como mudar quem era, tinha que se conformar com isso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Dos diários de Mariana... retrospectiva:

Parece que eu estou sempre esperando...

Esperando o dia chegar, o telefone tocar,
Esperando você resolver demonstrar alguma coisa...
Qualquer coisa que seja!
Também espero que tudo dê certo,
Que fiquemos juntos de alguma maneira,
Que eu seja, de fato, a mulher da sua vida...
Pelo menos por agora.

Eu espero que a esperança traga o que eu estou cansada de esperar.

04/06/07