terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Todo dia ela faz tudo sempre igual..." ¹


"Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café" ¹

Ela estava sozinha... ela sempre estava sozinha.
A música que tocava no último volume dizia o que ela tinha vontade de dizer.
("this neat little domestic life ... is for meeee!!!!"²)

Imaginava acordar todo dia ao lado do mesmo homem, e que isso se tornaria tão comum que não seria mais com o mesmo encantamento que ela notaria sua cara de sono, seu modo de despertar.

Mas ela pensava que faria de tudo para se encantar todos os dias.

Imaginava seu humor matinal, seu jeito de espreguiçar e a preguiça de escovar os dentes mas a imensa vontade de beija-lo.
A vontade iria desaparecer, o jeito de espreguiçar se tornaria irritante e, o humor matinal, cansativo.

Mas ela pensava que faria de tudo para se encantar todos os dias.

Imaginava, ainda, a pressa para se aprontar, a falta de tempo para tomar café, a torneira quebrada e a falta de dinheiro... imaginava os problemas... só problemas... mil problemas.

Mas ali, sozinha, lembrando-se de frases de uma música em que um certo poeta parnasiano falava sobre a repetição dos fatos da vida, ela pensava que faria de tudo para se encantar todos os dias.

¹Cotidiano - Chico Buarque
²Neat Little Domestic Life - Of Montreal

Um comentário:

Anônimo disse...

A gente vive sempre a esperar a repetição dos melhores dias de nossas vidas.

Que esse encantamento nunca termine!